terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Mais uma vergonha nacional!

Texto escrito por Antônio Ozaí, Sociólogo da UEM, sobre o exemplo de arrogância que Boris Casoy deu ao vivo. Vejam, leiam e reflitam.



Boris Casoy, os garis e o “politicamente correto”

O âncora do Jornal da Band ofendeu os garis, e extensivamente, aos profissionais que desempenham tarefas essenciais à sociedade, mas geralmente desvalorizados. No fundo, faz-se de conta que não existem, são trabalhadores “invisíveis”. Eles estão diante de nós, mas são desumanizados e reduzidos à função que praticam. Quando lembrados pela mídia sedenta de ibope, o ato revela-se pura demagogia. Cai a máscara!

http://www.youtube.com/watch?v=f_E4j7vi3js&feature=player_embedded

Em seguida, o pedido de desculpas.

http://www.youtube.com/watch?v=gD2q626eXmg&feature=player_embedded

Palavras pronunciadas mecânica e jornalisticamente; uma face que se assemelha a um robô de um desse filmes trash – sem trocadilho – de ficção científica. Os lábios que se mexem, porém, são de carne e sangue; é uma boca humana. É possível acreditar na sinceridade de quem fala? A fala espontânea que humilha os garis, essa sim soa sincera. Ela expressa algo próprio do humano, dos que se consideram superiores. O discurso pelo perdão, também é humano, mas soa falso. São palavras literalmente lançadas ao ar. Hipocrisia!

Mas, por que desculpar-se?! Exigências patronais para manter a audiência? Obediência ao politicamente correto? O pedido de desculpas não muda absolutamente nada. Pelo contrário, revela-se mera formalidade diante da repercussão negativa.

Claro, a gafe deste senhor merece críticas. E muitas foram feitas! Não obstante, também cabe um agradecimento. Antes que me compreendam mal, que os “diretores da consciência”, também conhecidos modernamente como “patrulha ideológica”, me critiquem, devo esclarecer o sentido do meu “elogio”. É simples: ao manifestar seu pensamento e, por uma falha técnica suas palavras terem se tornado públicas, o renomado jornalista expôs cruamente o que muitos pensam neste país, mas não têm a coragem de assumir. Ele manifestou o pensamento elitista, conservador e socialmente preconceituoso: um preconceito de classe contra os pobres; contra os que moram em favelas; contra os que não tiveram a oportunidade de estudar em universidades; contra os profissionais socialmente não reconhecidos e desqualificados. É uma herança da nossa formação colonial escravagista que permeia boa parte dos grupos sociais esclarecidos, diplomados, titulados e economicamente favorecidos.

A sinceridade deste senhor contribui para romper o véu de hipocrisia presente nas relações sociais no cotidiano e em espaços considerados “nobres”. É ilusório acreditar que muitos não se sentiram representados em suas palavras – e, provavelmente, ele até os decepcionou ao pedir “desculpas”. Sua fala expressa o pensamento e sentimento de muitos que andam por aí encobertos pela máscara dos “civilizados”; dos que, em público, se pautam pelo “politicamente correto”. Boris Casoy nos prestou um serviço ao desvelar a realidade que os hipócritas não ousam reconhecer.

A onda do “politicamente correto” também oculta a realidade social em torno de um discurso que se revela falso à primeira prova prática. O discurso “politicamente correto” paga um tributo à tirania da opinião da maioria, estabelece falsas unanimidades, além de, em alguns casos, beirar o ridículo. Ora, a exigência social, ética e humanista de respeito às pessoas que cuidam do lixo que a sociedade produz – e quanto maior o poder econômico, mais lixo – , e às profissões como a dos lixeiros, não anula o preconceito social e de classe. O “politicamente correto”, muitas vezes, encobre práticas e comportamentos inaceitáveis. É precisamente por isto que é melhor que venham à tona, que se manifestem. Assim, passamos a saber quem é quem. O pacto dos hipócritas pode até estabelecer uma certa harmonia social, mas esta se revelará falsa. A gafe do senhor Boris Casoy comprova-o.

Postado por Maria Tereza Ribas

2 comentários:

  1. Esse comentário do Boris com certeza foi a pior "mensagem de fin de ano" que alguem poderia dar.
    Preconceituosa e cruel, e ele ainda pede desculpas ao tele-espectador do Jornal da Band.

    ISSO É UMA VERGONHA

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  2. Concordo com Antônio Oza, Boris merece também um elogio... Afinal, seria possível enumerar as vezes que preconceitos como esse são concebidos em nosso país por hora, ou melhor, por minuto? Acredito que não.
    Gafes com essa podem funcionar como desatravancamento cerebral de alguns indivíduos...
    Fiquemos atentos ao dia a dia, vamos ver o que acontece...

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