Texto escrito por Antônio Ozaí, Sociólogo da UEM, sobre o exemplo de arrogância que Boris Casoy deu ao vivo. Vejam, leiam e reflitam.
Boris Casoy, os garis e o “politicamente correto”
O âncora do Jornal da Band ofendeu os garis, e extensivamente, aos profissionais que desempenham tarefas essenciais à sociedade, mas geralmente desvalorizados. No fundo, faz-se de conta que não existem, são trabalhadores “invisíveis”. Eles estão diante de nós, mas são desumanizados e reduzidos à função que praticam. Quando lembrados pela mídia sedenta de ibope, o ato revela-se pura demagogia. Cai a máscara!
http://www.youtube.com/watch?v=f_E4j7vi3js&feature=player_embedded
Em seguida, o pedido de desculpas.
http://www.youtube.com/watch?v=gD2q626eXmg&feature=player_embedded
Palavras pronunciadas mecânica e jornalisticamente; uma face que se assemelha a um robô de um desse filmes trash – sem trocadilho – de ficção científica. Os lábios que se mexem, porém, são de carne e sangue; é uma boca humana. É possível acreditar na sinceridade de quem fala? A fala espontânea que humilha os garis, essa sim soa sincera. Ela expressa algo próprio do humano, dos que se consideram superiores. O discurso pelo perdão, também é humano, mas soa falso. São palavras literalmente lançadas ao ar. Hipocrisia!
Mas, por que desculpar-se?! Exigências patronais para manter a audiência? Obediência ao politicamente correto? O pedido de desculpas não muda absolutamente nada. Pelo contrário, revela-se mera formalidade diante da repercussão negativa.
Claro, a gafe deste senhor merece críticas. E muitas foram feitas! Não obstante, também cabe um agradecimento. Antes que me compreendam mal, que os “diretores da consciência”, também conhecidos modernamente como “patrulha ideológica”, me critiquem, devo esclarecer o sentido do meu “elogio”. É simples: ao manifestar seu pensamento e, por uma falha técnica suas palavras terem se tornado públicas, o renomado jornalista expôs cruamente o que muitos pensam neste país, mas não têm a coragem de assumir. Ele manifestou o pensamento elitista, conservador e socialmente preconceituoso: um preconceito de classe contra os pobres; contra os que moram em favelas; contra os que não tiveram a oportunidade de estudar em universidades; contra os profissionais socialmente não reconhecidos e desqualificados. É uma herança da nossa formação colonial escravagista que permeia boa parte dos grupos sociais esclarecidos, diplomados, titulados e economicamente favorecidos.
A sinceridade deste senhor contribui para romper o véu de hipocrisia presente nas relações sociais no cotidiano e em espaços considerados “nobres”. É ilusório acreditar que muitos não se sentiram representados em suas palavras – e, provavelmente, ele até os decepcionou ao pedir “desculpas”. Sua fala expressa o pensamento e sentimento de muitos que andam por aí encobertos pela máscara dos “civilizados”; dos que, em público, se pautam pelo “politicamente correto”. Boris Casoy nos prestou um serviço ao desvelar a realidade que os hipócritas não ousam reconhecer.
A onda do “politicamente correto” também oculta a realidade social em torno de um discurso que se revela falso à primeira prova prática. O discurso “politicamente correto” paga um tributo à tirania da opinião da maioria, estabelece falsas unanimidades, além de, em alguns casos, beirar o ridículo. Ora, a exigência social, ética e humanista de respeito às pessoas que cuidam do lixo que a sociedade produz – e quanto maior o poder econômico, mais lixo – , e às profissões como a dos lixeiros, não anula o preconceito social e de classe. O “politicamente correto”, muitas vezes, encobre práticas e comportamentos inaceitáveis. É precisamente por isto que é melhor que venham à tona, que se manifestem. Assim, passamos a saber quem é quem. O pacto dos hipócritas pode até estabelecer uma certa harmonia social, mas esta se revelará falsa. A gafe do senhor Boris Casoy comprova-o.
Postado por Maria Tereza Ribas
Boris Casoy, os garis e o “politicamente correto”
O âncora do Jornal da Band ofendeu os garis, e extensivamente, aos profissionais que desempenham tarefas essenciais à sociedade, mas geralmente desvalorizados. No fundo, faz-se de conta que não existem, são trabalhadores “invisíveis”. Eles estão diante de nós, mas são desumanizados e reduzidos à função que praticam. Quando lembrados pela mídia sedenta de ibope, o ato revela-se pura demagogia. Cai a máscara!
http://www.youtube.com/watch?v=f_E4j7vi3js&feature=player_embedded
Em seguida, o pedido de desculpas.
http://www.youtube.com/watch?v=gD2q626eXmg&feature=player_embedded
Palavras pronunciadas mecânica e jornalisticamente; uma face que se assemelha a um robô de um desse filmes trash – sem trocadilho – de ficção científica. Os lábios que se mexem, porém, são de carne e sangue; é uma boca humana. É possível acreditar na sinceridade de quem fala? A fala espontânea que humilha os garis, essa sim soa sincera. Ela expressa algo próprio do humano, dos que se consideram superiores. O discurso pelo perdão, também é humano, mas soa falso. São palavras literalmente lançadas ao ar. Hipocrisia!
Mas, por que desculpar-se?! Exigências patronais para manter a audiência? Obediência ao politicamente correto? O pedido de desculpas não muda absolutamente nada. Pelo contrário, revela-se mera formalidade diante da repercussão negativa.
Claro, a gafe deste senhor merece críticas. E muitas foram feitas! Não obstante, também cabe um agradecimento. Antes que me compreendam mal, que os “diretores da consciência”, também conhecidos modernamente como “patrulha ideológica”, me critiquem, devo esclarecer o sentido do meu “elogio”. É simples: ao manifestar seu pensamento e, por uma falha técnica suas palavras terem se tornado públicas, o renomado jornalista expôs cruamente o que muitos pensam neste país, mas não têm a coragem de assumir. Ele manifestou o pensamento elitista, conservador e socialmente preconceituoso: um preconceito de classe contra os pobres; contra os que moram em favelas; contra os que não tiveram a oportunidade de estudar em universidades; contra os profissionais socialmente não reconhecidos e desqualificados. É uma herança da nossa formação colonial escravagista que permeia boa parte dos grupos sociais esclarecidos, diplomados, titulados e economicamente favorecidos.
A sinceridade deste senhor contribui para romper o véu de hipocrisia presente nas relações sociais no cotidiano e em espaços considerados “nobres”. É ilusório acreditar que muitos não se sentiram representados em suas palavras – e, provavelmente, ele até os decepcionou ao pedir “desculpas”. Sua fala expressa o pensamento e sentimento de muitos que andam por aí encobertos pela máscara dos “civilizados”; dos que, em público, se pautam pelo “politicamente correto”. Boris Casoy nos prestou um serviço ao desvelar a realidade que os hipócritas não ousam reconhecer.
A onda do “politicamente correto” também oculta a realidade social em torno de um discurso que se revela falso à primeira prova prática. O discurso “politicamente correto” paga um tributo à tirania da opinião da maioria, estabelece falsas unanimidades, além de, em alguns casos, beirar o ridículo. Ora, a exigência social, ética e humanista de respeito às pessoas que cuidam do lixo que a sociedade produz – e quanto maior o poder econômico, mais lixo – , e às profissões como a dos lixeiros, não anula o preconceito social e de classe. O “politicamente correto”, muitas vezes, encobre práticas e comportamentos inaceitáveis. É precisamente por isto que é melhor que venham à tona, que se manifestem. Assim, passamos a saber quem é quem. O pacto dos hipócritas pode até estabelecer uma certa harmonia social, mas esta se revelará falsa. A gafe do senhor Boris Casoy comprova-o.
Postado por Maria Tereza Ribas