terça-feira, 8 de setembro de 2009

Estudantes de Ciências Sociais contra a premiação de FHC

Post by Selma Singulano

Os estudantes de Ciências Sociais, através de suas organizações
político-acadêmicas, tornam público o seu absoluto repúdio à entrega
do prêmio “Florestan Fernandes” pela Sociedade Brasileira de
Sociologia ao ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso,
durante a abertura do XIV Congresso Brasileiro de Sociologia –
realizado recentemente na UFRJ.

O Prêmio Florestan Fernandes, instituído no XI Congresso Brasileiro de
Sociologia, em 2003, tem o objetivo de homenagear sociólogos que, por
seu empenho na produção do conhecimento e liderança institucional, são
marcos de referência na história da disciplina no Brasil.

Ao longo da história da SBS, inúmeros intelectuais e sociólogos que
contribuíram de forma expressiva para o progresso das Ciências Sociais
no Brasil, já receberam o prêmio “Florestan Fernandes” como Manuel
Correia de Andrade, Heraldo Pessoa Souto Maior, Octávio Ianni, Neuma
Aguiar, José de Souza Martins, Juarez Rubens Brandão Lopes, Wilma de
Mendonça Figueiredo, Francisco de Oliveira, Silke Weber, entre outros.
Reconhecimento mais que merecido.

Em 8 de outubro de 2001, o sociólogo e presidente Fernando Henrique
Cardoso vetou um a lei que incluía as disciplinas Filosofia e
Sociologia como disciplinas obrigatórias no currículo das escolas de
Ensino Médio no país, o que beneficiaria cerca de dez milhões de
jovens. Em 1997, já havia sido apresentado e aprovado na Câmara dos
Deputados o Projeto de Lei (PL 3.178/97), que alterava a LDB incluindo
Filosofia e Sociologia como disciplinas obrigatórias. Quando enviado à
sanção presidencial, porém, o projeto foi vetado integralmente por
Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que agora foi homenageado pela SBS.

Quando do veto em 2001, este foi considerado por intelectuais e
lideres políticos, como bastante grave para a credibilidade da
Sociologia e dos Sociólogos, perante a opinião publica. Nesse sentido,
consideramos a outorga do prêmio ao ex-presidente e sociólogo um
ultraje à memória de Florestan Fernandes e a própria história da
entidade científica (SBS), sucessora da Sociedade de Sociologia de São
Paulo e que sempre foi uma das aliadas nessa luta nacional.

Em principio, tal gesto parece representar uma expressão intolerável
de reabilitação de um sociólogo que brindou a sociedade brasileira com
o famoso “esqueçam o que escrevi”. Não se trata aqui de preconceito e
de intolerância, mas de conformação com valores que modelam o espírito
critico do mestre Florestan Fernandes. Torna-se bastante pertinente
refletir que a disputa de ideias e espaços devem servir não a
aceitação social e reabilitação da velha ordem neoliberal, mas ás
transformações sociais alcançadas pela sociedade brasileira no atual
momento, com o reconhecimento, inclusive, da Sociologia no Ensino
Médio.

Somamos-nos às entidades como o Sindicato dos Sociólogos de São Paulo
(Sinsesp) nos protestos contra a posição e o gesto simbólico expressos
pela Sociedade Brasileira de Sociologia. Encaminharemos a todos os
estudantes de Ciências Sociais no Brasil a nossa manifestação de
repúdio ao homem político insensível que renegou a Sociologia ao
qualificar, na época, o projeto de Sociologia no Ensino Médio como
“contrário ao interesse público”. Seguiremos apoiando o reconhecimento
a todos os profissionais que não separam teoria e prática, aliando-as
com coerência na sua atividade cotidiana.

2 comentários:

  1. Bom dia,
    Primeiramente quero agradecer pelo artigo postado.
    Não tenho qualquer interesse em defender as políticas públicas de FHC, até porque vivi as 2 gestões e lembro bem o que aconteceu, mas humildemente acho que estamos a confudir as coisas.
    O prêmio Florestan Fernandes pelo que eu lí, tem "o objetivo de homenagiar sociólogos que por seu empenho na produção do conhecimento e liderança institucional, são marcos de referência na história da disciplina no Brasil", o que ao meu ver (me corrijam se estiver errado) não tem ligação alguma com a suas gestão como Presidente da república. Portanto não quero abraçar uma causa que discrimina e repudia a honagem a um sociólogo (não estamos falando de ex-presidente) do qual a(s) obra(s) e a sua contribuição para a sociologia brasileira desconheço.
    Agradeço pela oportunidade de expressar minha opinião e pelo artigo que despertou em mim a vontade de conhecer as obras deste sociólogo.
    Um abraço,
    Rafael Borges

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  2. Meus conhecimentos acerca de Florestan Fernandes não são suficientes para formular uma resposta mais apurada. Porém,é sabido que este possuiu e ainda possui prestígio nacional e internacional em sua área.Não há dúvida que é por mérito que Florestan "empresta" seu nome a esse prêmio concedido pela Sociedade Brasileira de Sociologia.Claro que o que está sendo posto à prova não são as ações do FHC como presidente,mas sim como sociólogo.Também não sou nem um pouco entendedor da sociologia construída pelo ex-presidente.Contudo,posso arriscar que esses nossos colegas,estudantes de Ciências Sociais questionam se a postura sociológica de FHC realmente contribuiu com a sociologia além de toda teorização por ele formulada.Se sua impotência diante da oportunidade de por em prática a sociologia e/ou ao menos levá-la a conhecimento mais amplo aos brasileiros( incluindo filosofia e sociologia como disciplinas obrigatórias ) é merecedora de um prêmio que contempla justamente o contrário.É contraditório utilizar um critério de "empenho na produção do conhecimento", e premiar alguém que causa empecilho à disseminação do aprendizado que ele próprio teve contato, e que acaba por restringir a produção científica na área.Isso tudo não passa de uma grande hipocrisia,de um retrocesso que desmerece, lamentavelmente, a sociologia.

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